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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eliminação de gatos invasores em ilha australiana leva a catástrofe ambiental


Sem os felinos, população de coelhos devastou vegetação do lugar.
Caso é lição para pesquisadores que tentam deter espécies exóticas.

Com seus duros e verdes penhascos e céus repletos de névoa, a Ilha Macquarie – na metade do caminho entre Austrália e Antártida – se parece com a Meca de um amante da natureza. No entanto, a ilha recentemente se tornou uma sóbria ilustração do que pode acontecer quando os esforços para eliminar uma espécie invasora acabam causando danos colaterais imprevistos.

Em 1985, cientistas australianos iniciaram um ambicioso plano: dizimar os gatos não-nativos que viviam nas colinas da ilha desde o início do século XIX. O programa começou por uma aparente necessidade – os gatos estavam caçando pássaros nativos. Vinte e quatro anos depois, uma equipe de cientistas da Divisão Antártica Australiana e a Universidade da Tasmânia relatam que a remoção dos gatos inesperadamente causou uma destruição no ecossistema da ilha.

Sem os gatos, os coelhos da ilha (também não-nativos) começaram a procriar descontroladamente, destruindo plantas nativas e enviando efeitos por todo o ecossistema. As descobertas foram publicadas online na revista científica "Journal of Applied Ecology", em janeiro. “Nossas descobertas mostram que é importante que os cientistas estudem todo o ecossistema antes de realizar programas de erradicação”, diz Arko Lucieer, perito em sensoriamento remoto da Universidade da Tasmânia e co-autor do estudo. “Não houve muitos programas que levaram todo o sistema em consideração. Você precisa entrar em modo cenário: ‘Se matarmos este animal, que outras consequências poderemos observar?’”

Caçadores de focas introduziram os coelhos na ilha Macquarie em 1878, compondo o problema das espécies invasoras na ilha de 40 km de comprimento. Em 1968, quando as autoridades introduziram um vírus fatal na tentativa de matar os coelhos, a população havia alcançado mais de 100 mil. A estratégia funcionou; na década de 1980, a população de coelhos havia caído para menos de 20 mil. Mas isso significava que os gatos, que dependiam dos coelhos para fonte de alimento, começariam a comer os pássaros marinhos em seu lugar.

Gatos mortos

Para avaliar as consequências da iniciativa de matar os gatos, a equipe de ecólogos comparou imagens de satélite tiradas da ilha em 2000, o ano em que os últimos gatos foram mortos, com uma série tirada em 2007. Quando as vegetações morrem, a aguda queda no conteúdo de clorofila reduz o reflexo da radiação infravermelha, de maneira que pode ser gravada.

“Você pode ver claramente a diferença entre plantas saudáveis e mortas em nossas imagens”, diz Lucieer. “A vegetação viva aparece como vermelho brilhante.” Os cientistas também estudaram detalhadamente lotes de terra para avaliar sua composição de espécies de plantas.

As imagens mais recentes do satélite revelaram uma paisagem completamente diferente. A grande população de coelhos havia destruído os exuberantes espaços gramados nas colinas costeiras, deixando-as nuas. Capins e ervas exóticas começaram a conquistar as colinas, formando uma densa rede de folhas e troncos que, em alguns lugares, evitavam o acesso dos pássaros marinhos nativos a locais adequados para ninhos.

Comum até demais

A ruína da Macquarie não é um incidente isolado; muitos outros programas de remoção de espécies já infligiram danos em ecossistemas próximos. Na Nova Zelândia, conservacionistas decidiram dizimar três espécies introduzidas com um programa – ratos, marsupiais e arminhos – ao envenenar os dois primeiros.

A ideia era que a operação de envenenamento eliminaria as populações de arminhos por associação, pois os ratos eram uma parte crítica da alimentação dos arminhos. Mas quando o plano teve início, no início dos anos 1990, os arminhos não desapareceram. Com a ausência dos ratos, eles começaram a caçar pássaros nativos e ovos de pássaros.

Similarmente, no oeste dos Estados Unidos, a remoção de arbustos exóticos ameaçou uma espécie em extinção de pássaros cantantes, o papa-moscas do sudoeste. Os arbustos, que suplantaram grande parte da vegetação nativa, sugam tanta água que constringem canais de rios e tornam o solo mais salgado, mas também oferecem um importante habitat de ninhos para o papa-moscas.

Em 2005, funcionários do Departamento de Agricultura começaram a soltar besouros desfolhantes para controlar as populações do arbusto. Em dezembro de 2008, o Centro pela Diversidade Biológica revidou, registrando uma nota de intenção para processar o departamento – por falhar em colaborar com o Serviço de Peixes e Vida Selvagem para encontrar uma maneira de proteger o papa-moscas.

Os cientistas que estudaram a Ilha Macquarie acrescentaram suas descobertas àqueles resultados anteriores e esperam que os ecólogos abordem os futuros esforços mais holisticamente, realizando amplos trabalhos de background sobre potenciais consequências da remoção de espécies exóticas muito antes de iniciar programas de matança.

Perdas e ganhos

“Houve centenas de esforços de erradicação de espécies invasoras, e a grande maioria resultou em claros ganhos de conservação”, diz Erika Zavaleta, ecóloga da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. “Mas a Ilha Macquarie é um novo e claro exemplo dos inesperados efeitos colaterais que podem ocorrer.”

Para evitar a piora nos problemas ao tentar solucioná-los, diz Zavaleta, os pesquisadores precisam planejar e monitorar como seu mantra. “Os cientistas precisam fazer a si mesmos perguntas vitais, como de que forma todas as espécies na ilha interagem entre elas.”

A Ilha Macquarie oferece uma chance de se fazer exatamente isso. Um novo programa de erradicação em planejamento tem como foco milhares de ratos, camundongos e coelhos. Na teoria, isso deve eliminar terríveis ameaças à fauna e vegetação locais, porque os coelhos acabam com os capins nativos e os ratos e camundongos comem os filhotes de pássaros marinhos. Mas desta vez, os administradores estão preparados para realizar correções de curso se as coisas não caminharem de acordo com o plano.

“Este estudo demonstra claramente que, ao fazer um esforço de remoção, você não sabe exatamente qual será o resultado,” diz Barry Rice, um especialista em espécies invasoras da organização Nature Conservancy. “Você não pode simplesmente entrar e fazer um único golpe cirúrgico. Qualquer tipo de ação que fizer seguramente causará algum dano.”

Fonte: G1 (http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1018037-5603,00.html), em 26 de fevereiro de 2009.

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